16 de janeiro de 2010

Professores e Livros


A profissão de professor deve ser das mais incompreendidas. Toda a gente já teve professores, mas poucos já o foram. Vistos de fora, parecem todos iguais: seguros, demasiado exigentes, sempre entediantes, sempre com todas as respostas. Claro, nem todos os professores são iguais, mas a maneira como os alunos os entendem uniformiza-os. Têm uma imagem de marca.

O livro de Frank McCourt, o Professor, procura destruir este estereótipo. Contando a sua própria vida, o autor também nos dá a conhecer o que é a vida de professor, vista de dentro. Um professor não é nenhum autómato do conhecimento; é uma pessoa como nós quem está ali à frente, na sala, a falar sobre lamelas fotossintéticas. Também se aborrece, também tem amores e ódios e, muitas vezes, também gostaria de estar noutro lado. Mas o mais surpreendente é que também se assusta. Parece óbvio, mas, se reflectirmos, é trágico que aquele todo-poderoso sempre confiante também sofra por não saber se está a fazer bem o seu trabalho.

Uma das coisas piores nesta profissão é não se poder hesitar. Se há problemas, o professor que os resolva. Que fazer quando um adolescente se põe em cima de uma mesa e se recusa a descer dali ? Eu não sei, nem o professor sabe. Mas é ele que tem de resolver o problema e, apesar de estar tão às escuras como eu, tem de ser firme. Sempre foi assim ― mas era muito bom que não fosse.

Globalmente, a leitura foi divertida, a prosa leve e directa, o tema interessante. Recomendo o livro principalmente àqueles estudantes, como eu, que nunca ensinaram, e que, excluindo uns quantos preferidos, ainda olham às vezes para os professores como máquinas de filosofia, de literatura, de ciência, mas nunca como pessoas.

8 de janeiro de 2010

Superstição e Livros


A astrologia, a homeopatia, as conspirações de ovnis e a bruxaria no geral são por todos classificadas como imbecilidades, provas de que a humanidade ainda tem muitas coisas que corrigir. Quando se aborda o assunto numa conversa, todos concordam que isso é superstição, uma irracionalidade, que só os idiotas mais limitados, ou as pessoas com muitíssimo pouca instrução, é que podem alguma vez sequer pensar em procurar conselho junto dos videntes e seus primos astrólogos, homeopatas, médicos alternativos – e a lista continua.
Mas então, se as pessoas sabem que essas coisas não funcionam, como é possível que a superstição prospere?

Há uma boa explicação para uma amostra razoável destes casos. Consideremos um jogador de roleta numa maré de azar. Perde, perde e perde... devia ganhar mais vezes... mas volta a perder. A sorte não está com ele. Que fazer nestas situações extraordinárias? Recorrer a soluções extraordinárias! Sair do casino, virar à esquerda, falar com a bruxa, pagar à bruxa, fazer o que a bruxa manda. E depois jogar, ganhar. A bruxa acabou de ganhar um cliente fiel.

Existe uma explicação subtil da razão pela qual procurar conselho junto de fontes alternativas parece resultar em muitos casos como este. O nosso jogador só foi à bruxa quando as coisas lhe começaram a correr muito mal: perdia mais vezes do que na média. Só que, se perdia mais vezes do que na média, então os seus resultados tendiam a melhorar naturalmente, ajustando-se com este importante facto estatístico. Por muitas vezes as coisas melhorarem quando cedemos à superstição, isso não significa que ela resulte, porque normalmente as coisas melhorariam por si próprias.

Gostava de saber mais sobre estes assuntos e ler algumas histórias curiosas de física e de matemática? Então leia o divertido O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias, do matemático português Jorge Buescu.